14 de novembro de 2024
Discutir o próprio campo da comunicação no Brasil é uma urgência para a Sociedade de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Prova disso é que a entidade definiu como tema do Congresso Nacional de 2025: “(Re)pensar a Comunicação como Campo de Conhecimento, Formação e Práticas Profissionais".
A temática objetiva provocar uma reflexão mais profunda sobre as delimitações do campo da comunicação, especialmente enquanto produtora de conhecimento científico, bem como suas possibilidades de expansão. Muito porque, mudanças na área, tanto no sentido profissional quanto acadêmico, priorizam as discussões sobre o lugar da área na sociedade. Ressalta-se a preocupação de maneira cuidadosa quanto à classificação dos cursos feita pelo Conselho Nacional de Educação, que passou a ver a Comunicação de maneiras distintas, sem respeitar as características específicas da área.
Situações como essa, que são complexas e impactam a comunicação, impulsionaram a decisão de discutir sobre o próprio campo de pesquisa e de atuação profissional. A área tem vivenciado uma crise advinda, principalmente, com as mudanças tecnológicas e que tem reverberado nas relações de trabalho e no uso da mídia como um instrumento de poder.
Para o presidente da entidade, Juliano Domingues (UPE/UNICAP), a Intercom, ao decidir o tema, enfrenta as transformações sobre o que é a área da comunicação de maneira decisiva, sobretudo frente às mudanças cada vez mais velozes e impactantes vistas na contemporaneidade.
“Essa é uma reflexão atemporal, sempre necessária. No momento atual, porém, essa necessidade se mostra ainda mais premente, diante da intensificação do fenômeno da aceleração social movido, em grande medida, pelas mudanças (também aceleradas) nos fluxos comunicacionais e nas tecnologias a ele associadas", enfatiza o presidente. De acordo com ele, tais mudanças têm impactos em diferentes dimensões na sociedade, inclusive na organização da área da comunicação enquanto campo. “É preciso um chamamento ao estabelecimento de um fórum permanente de reflexão e ação”, conclui.
O mesmo pensamento é compartilhado pela ex-presidente da Intercom e membro do Conselho Curador, Margarida Kunsch. Segundo a pesquisadora, hoje vivenciamos uma revolução tecnológica marcada por intensas mudanças, que impactam e atravessam as esferas econômicas, sociais, políticas, ecológicas, educacionais e científicas. Neste cenário, a comunicação está diretamente envolvida e marcada pelas novas possibilidades, trazendo muitos questionamentos e desafios, tanto para a área acadêmica, quanto para o mercado profissional das comunicação.
“A Comunicação hoje precisa se basear em pautas muito maiores e mais abrangentes,
numa visão complexa da sociedade e do planeta. E a universidade, com seus centros de
pesquisa, constitui um espaço por excelência nesse sentido", ressalta Margarida.
A visão da Intercom sobre a temática é ampla e faz referência exatamente a todos esses processos transformadores. Não se pode mais fugir dos impactos e, cabe a entidades, como a Intercom, reforçar os questionamentos e a criticidade sobre essa complexidade. Conforme explica a vice-presidente da Intercom e coordenadora da Expocom, Ariane Pereira (Unicentro), é preciso notar com urgência a complexidade de tudo o que cerca a área da comunicação.
“O primeiro passo nesse sentido é reafirmar que compreendemos a Comunicação como um campo do conhecimento específico e que, portanto, tem expertises próprias, que vão das teorias e métodos de pesquisa às práticas profissionais. Se esses modos de fazer jornalismo, publicidade e propaganda, relações públicas e audiovisual demandam conhecimentos que são próprios da área, nós precisamos defender que apenas quem tem, quem passou pela formação faça essa execução".
Iluska Coutinho, diretora científica da Intercom, reforça que os tempos de transformação sociais, políticas,culturais e econômicas impactam decisivamente nos campos de conhecimento, profissionais e do saber científico. Por isso mesmo, o momento é de colocar as teorias e pesquisas diante de novos desafios, buscando o papel da Comunicação na contemporaneidade.
“Isso implica repensar o mundo do trabalho, a formação profissional, as dimensões de ensino, pesquisa e extensão. As transformações que vivenciamos são atravessadas pela Comunicação, mas também interpelam nossos modos de saber de uma área que cada vez mais se define pela interface e diálogo com outros campos. Por isso, a proposta do tema do congresso é repensar o que nos caracteriza como campo de conhecimento autônomo, e relevante", diz.
As discussões sobre o papel da Comunicação e de suas práticas são temas recorrentes nos estudos e congressos da Intercom. Kunsch lembra que já emseu primeiro I Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, em 1978, foram tratadas questões acerca do Ensino Superior da Comunicação. Desde então, ao longo dos congressos regionais e nacionais, a formação em comunicação e as pesquisas na área retornam e merecem destaque, tal como acontecerá em 2025.
“Trazer o tema para o Congresso Intercom 2025 é da maior relevância e uma necessidade urgente. Temos que revolucionar o ensino da Comunicação e das suas subáreas e especialidades, e buscar novos caminhos para realização de pesquisas e produção de novos conhecimentos sintonizados com as demandas da sociedade", diz a ex-presidente, ressaltando também a necessidade de entender os novos campos do saber e as Ciências da Comunicação, que necessitam ser mais compreendidas e valorizadas por toda a comunidade científica e pelo mercado das comunicações. “No conjunto das demais ciências, defendo que a Comunicação constitua uma grande área do conhecimento frente todos os avanços e conquistas alcançadas até aqui".
A defesa pela área passa também pela discussão,estudos e pesquisas que contribuam para o desenvolvimento de projetos transformadores, capazes de seguir os princípios éticos e deontológicos da comunicação.
Desta forma, a professora Cláudia Peixoto de Moura, integrante do Fórum sobre Ensino de Comunicação (Ensicom), defende a necessidade de a Intercom, seus associados e associadas e congressistas discutirem o campo da comunicação, principalmente porque a área abriga várias profissões relevantes e que necessitam de um ensino superior qualificado.Para ela, o debate em torno da temática do Congresso Nacional de 2025 possibilitará a ampla abordagem e conhecimento sobre o tema, contribuindo para o desenvolvimento de técnicas e práticas direcionadas ao adequado exercício profissional.
“O ensino de comunicação, em nível de graduação e de pós-graduação, tem um papel fundamental para o conhecimento de um espaço e um tempo em mutação. Assim, repensar a comunicação significa repensar a sociedade, considerando sua complexidade", afirma.
Entre as mudanças mais significativas, destaque para o papel da extensão em Comunicação, que recentemente foi curricularizada na graduação, mas que ainda traz dúvidas acerca do que são as práticas extensionistas na área.“A gente viu, por exemplo, a extensão passar a ter protagonismo e, simultaneamente, gerar inquietações com a obrigatoriedade da curricularização e sobre o que é, efetivamente, extensão em Comunicação", completa Ariane.
A compreensão da Intercom sobre a área da comunicação e a defesa da temática também construiu o debate e afirmação de posicionamento em relação à Expocom. Segundo a vice-presidente, depois de uma série de debates, a Diretoria Executiva, em consonância com a equipe Expocom, tomou algumas decisões que corroboram com a defesa da área da comunicação.
“Embora a interdisciplinaridade esteja no cerne da Intercom, nossa centralidade é a Comunicação e é para ela que nossas atividades, incluindo nossa mostra prática, deve se voltar. Nesse sentido, decidiu-se que não faria sentido atender a algumas demandas referentes à inclusão de outros cursos de graduação, como Letras, e tecnólogos, como Marketing. Uma ampliação como essa iria em sentido contrário a esse (re) fortalecimento que estamos buscando para a nossa área", destaca a vice-presidente.
Conheça o regulamento da Expocom e as ementas dos Grupos de Pesquisa da Intercom.
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