1º de fevereiro de 2023
A temática antirracista não só na perspectiva da denúncia e da resistência, mas também como reposicionamento epistemológico: essa é a proposta do Grupo de Pesquisa (GP) Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico, um dos novos GPs que passaram a compor o núcleo científico da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) em 2022.
Coordenado por Márcia Guena dos Santos, professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), doutora em História pela Universidade Complutense de Madrid (UCM), mestre em Integração da América pela Universidade de São Paulo (USP) e jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e por Richard Santos, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), pós-doutor pela Universidade Federal da Bahia, doutor em Ciências Sociais com ênfase em Estudos Comparados sobre as Américas pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Comunicação pela Universidade Católica de Brasília (UCB), o GP Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico estreou no congresso nacional da Intercom, em setembro do ano passado em João Pessoa, com 37 artigos. “Termos sido o quarto GP em número de submissões foi uma grata surpresa, pois mostrou que nossa proposta foi muito bem recebida”, avalia a professora Márcia. “Acredito que havia uma demanda represada (que talvez ainda se repita neste ano), uma ansiedade pela existência dessa discussão na Intercom sobre racismo, antirracismo, epistemicídio, interseccionalidade… Essas temáticas têm surgido nos cursos de pós-graduação, inclusive como reflexo das políticas públicas de cotas nas universidades, mas faltava um espaço de diálogo entre pares.” Essa percepção, inclusive, foi corroborada cientificamente: no encontro do GP, Márcia Guena apresentou a pesquisa “Relações raciais e comunicação: análise da produção intelectual da Intercom (1998-2021)”, desenvolvida com Andréa Rosendo da Silva e Céres Santos e que mostrou que o temadeu um salto nos GPs e no Intercom Júnior a partir de 2015, acompanhando o avanço das políticas afirmativas na educação brasileira.
Além das sessões de apresentação de trabalhos, organizadas por temas, o GP Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico promoveu durante o 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022) a sessão especial “Pretxs em roda: perspectivas sobre a pesquisa em Comunicação e Relações Raciais no Brasil”. “A sessão especial se transformou em uma apresentação da proposta do GP e, ao mesmo tempo, uma apresentação das pesquisadoras e dos pesquisadores, pois nos encontrávamos presencialmente pela primeira vez. Foi uma grande roda de conversa e de troca de experiências e sensibilidades. Cada participante falou da pesquisa que desenvolve e das dificuldades que os pesquisadores e pesquisadoras negros enfrentam na academia,de tendência eurocêntrica e marcada pelo racismo institucional – que está presente nos cursos de graduação e pós-graduação e nas metodologias fechadas, que admitem pouco diálogo com outras epistemes. Foi um momento muito bonito nesse sentido, porque houve uma troca intensa de perspectivas de pesquisa e metodologias, mas operou também na esfera do sensível, a partir de um lugar de fala comum, de uma vivência comum desse grupo”, lembra a professora Márcia.
Para conhecer os trabalhos apresentados no GP Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico, acesse os Anais do Intercom 2022.
O encontro no congresso nacional foi a culminação do trabalho que GP desenvolveu ao longo de todo o ano,no sentido tanto de aproximação entre pesquisadores(as) interessados(as) na temática antirracista como de ações práticas: realização da mesa "Por uma Comunicação Antirracista: propostas teóricas e metodológicas" no congresso regional Nordeste da Intercom, em maio; coordenação da sessão “Racismo e Desinformação: dos discursos sobre cotas aos algoritmos” na quarta temporada das Lives Cátedra Intercom, também em maio; organização do minicurso on-line “Comunicação, Antirracismo e Pensamento Afrodiaspórico” na programação da 74a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho; e abertura de chamada para o livro “10 anos de ações afirmativas no Brasil”, que deve ser publicado ainda neste semestre.
Para 2023, a coordenação do GP Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico pretende manter sua presença nos congressos regionais da Intercom, publicar um segundo livro (com os artigos apresentados no Intercom 2022) e ampliar sua relação com o Intercom Júnior, que é o espaço de apresentação de artigos de iniciação científica nos congressos da entidade. “Queremos fomentar a participação de estudantes de graduação para que tenham a expectativa de ingressar na pós-graduação com discussões étnico-raciais na Comunicação”, afirma Márcia Guena. Os planos do GP incluem, ainda, um possível intercâmbio com cursos preparatórios para pós-graduação e a oferta de um curso sobre comunicação antirracista focando as políticas públicas no campo da Comunicação e a produção científica na perspectiva antirracista.
“A principal contribuição de nosso GP é colocar a temática racial na Intercom e discutir a perspectiva racial na Comunicação no maior congresso de nosso campo do país. Falamos de uma comunicação antirracista e afrodiaspórica. Essas duas palavras são importantes: a perspectiva antirracista não pretende só uma denúncia permanente, apontando o racismo que está presente na comunicação, mas também é propositiva, pois pensa a existência das diversas expressões do racismo e nos mobiliza para uma transformação no campo em questão. Já o pensamento afrodiaspórico nos coloca diante de uma mudança epistemológica: de onde partimos e quais pensadores e pensadoras trazemos para pensar a Comunicação, saindo da perspectiva unicamente eurocêntrica para trazer autores e autoras de outros lugares – não só geográficos, como também epistemológicos – que nos contemplem. Pensar a comunicação a partir depensadores e pensadoras da diáspora africana nas Américas, em particular no Brasil, contemplar pesquisadores da África e da Índia, evidenciando a América Ladina, como diria Lélia Gonzalez, contemplando o pensamento decolonial, significa olhar para nós mesmos; é ver que é possível filosofar em guarani e em iorubá, e não apenas em alemão”, conclui a professora Márcia.
Para acompanhar as novidades, siga o perfil do GP no Instagram @gpafrodiasporico.
Conheça a ementa, a coordenação e as referências do GP Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico no Portal Intercom.
SÉRIE ESPECIAL GRUPOS DE PESQUISA INTERCOM
A Intercom mantém 33 GPs ativos. Conheça outros grupos que já foram apresentados nesta série especial do JORNAL INTERCOM:
GP Comunicação, Alteridade e Diversidade
GP Cinema
GP Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão
GP Comunicação, Tecnicidades e Culturas Urbanas
GP Comunicação e Esporte
GP Comunicação, Divulgação Científica, Saúde e Meio Ambiente
GP Ficção Televisiva Seriada
GP Comunicação e Trabalho
GP Geografias da Comunicação
GP Semiótica da Comunicação
GP Produção Editorial
GP Comunicação e Desenvolvimento Regional e Local
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