4 de setembro de 2023
Na última quarta-feira (30/08), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e a Federação Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Socicom) realizaram a nona edição de seu fórum conjunto, como parte da programação remota do 46º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2023).
Com o tema "Da Teoria à Prática: Curricularização da extensão nas faculdades de Comunicação – planejamento, implantação e impactos", o IX Fórum Socicom-Intercom recebeu Karina Gomes Barbosa da Silva (Ufop) e David Renault (UnB), que contaram um pouco sobre como suas respectivas instituições estão implementando a curricularização das atividades extensionistas, conforme as diretrizes da Resolução nº 7/2018, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE), vinculado ao Ministério da Educação (MEC). O fórum foi coordenado por Betania Lemos Maciel (ESUDA), presidente da Socicom, e Rafiza Varão (UnB), diretora de Relações Nacionais da entidade.
Em linhas gerais, os painelistas expuseram os principais desafios para a implementação das diretrizes e as soluções encontradas pelos cursos de Jornalismo de suas universidades – a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop, campus de Mariana). David Renault iniciou lembrando que a inserção de atividades de extensão no currículo da graduação já estava prevista na Lei nº 13.005/2014, que aprova o Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE), cuja meta 12.7 é “assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência social”.
Segundo ele, o trabalho da UnB para estruturar a curricularização foi baseado no mínimo de 10% da carga horária exigido pela legislação, buscando o entendimento “fundamental da integração entre ensino, pesquisa e extensão de forma interdisciplinar”. Descrevendo cronologicamente as resoluções emitidas pela gestão da UnB e as ações tomadas pela coordenação do curso de Jornalismo – à frente da qual estava durante o processo de estruturação do novo currículo –, o professor David apresentou o primeiro desenho para contornar o desafio de alteração da carga horária: a ideia era dobrar a carga horária de disciplinas obrigatórias já existentes, sendo metade dessa carga dedicada à extensão, e oferecer atividades extensionistas em 15 disciplinas optativas, de forma que cada estudante pudesse escolher suas atividades e obrigatoriamente cumprir as 300 horas de extensão (10% da total) exigidas pela lei.
Porém, foi preciso alterar esse desenho para garantir a consonância com a legislação: a extensão foi incorporada a disciplinas obrigatórias já existentes, que tiveram sua carga horária aumentada, e novas foram criadas a partir de adaptações de programas de extensão. “Nossa faculdade tem uma longa tradição extensionista – temos, inclusive, uma sala de extensão no prédio –, com o protagonismo dos alunos e a participação ativa das comunidades locais”, afirmou o professor David.
Karina Barbosa também narrou o processo de curricularização na Ufop desde a publicação da resolução do CNE, em 2018, além de contextualizar a vocação extensionista dos cursos de Comunicação da universidade, incluindo ações relacionadas a acessibilidade, música popular, leitura crítica do jornalismo, fotografia pinhole e forró. O exemplo dado pela professora foi o programa de extensão “Sujeitos de suas histórias”, que ela coordena: iniciado em 2015, o programa ampliou sua atuação após a tragédia ocasionada pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, em novembro daquele ano.
Segundo ela, as discussões sobre a curricularização da extensão começaram entre 2018 e 2019 com “mais perguntas do que respostas”, pois não havia modelos a seguir. Entre 2020 e 2021, anos em que a pandemia alterou profundamente as dinâmicas da universidade, o plano do curso de Jornalismo foi discutido e delineado. Com aprovações pelo Colegiado, em 2022, e pelo Conselho Universitário, em 2023, ele já está passando por alguns testes para ser implementado no primeiro semestre letivo de 2024.
O modelo adotado pelo Jornalismo da Ufop contempla 240 horas de extensão integradas a sete disciplinas obrigatórias, com as 60 horas restantes em uma eletiva extensionista (Oficina de Extensão em Comunicação). Para tanto, foi necessário deslocar o eixo de jornalismo impresso para a extensão (eliminando, portanto, o jornal e a revista desenvolvidos como laboratório), inserindo uma oferta interdisciplinar por meio de eletivas com carga horária extensionista. A partir de três disciplinas eletivas já ofertadas em caráter experimental neste ano, o jornal A Sirene (em colaboração com a comunidade afetada pelo rompimento da barragem em 2015) e a revista Relato (voltada à exposição das atividades dos estudantes junto à comunidade externa) passaram a ser desenvolvidos por um número expressivo de estudantes matriculados.
Entre os desafios a serem vencidos, a professora Karina apontou: a inclusão de estudantes em vulnerabilidade e do curso noturno nas atividades obrigatórias de extensão; a execução contínua e obrigatória da extensão para todo o corpo discente; e a preparação de um número maior de docentes para atuação com atividades extensionistas. “Estamos em um momento de tatear para entender como os cursos farão essa curricularização”, afirmou, acrescentando que a experiência extensionista gera um importante vínculo entre estudantes, universidade e comunidade, e que as bolsas de extensão contribuem para a permanência de alunos em vulnerabilidade.
Após as exposições, Rafiza Varão lembrou que, embora seja um dos três pilares da universidade – juntamente com o ensino e a pesquisa –, a extensão ainda é vista como “prima pobre” da pesquisa. Assim, apesar dos desafios, “a curricularização da extensão tem a intenção de torná-la mais aceita e valorizada”, afirmou.
“Há uma preocupação com a superficialidade ao se tornar a extensão obrigatória – os alunos fazerem as atividades apenas para cumprir uma exigência, e não por terem um interesse genuíno nessas atividades. O sucesso dependerá dos modelos de curricularização a serem adotados pelas universidades”, ressaltou Betania Maciel. “A Socicom e a Intercom plantaram aqui uma semente para ampliar a discussão a outras esferas e outros eventos”, concluiu.
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