20 de julho de 2023
No início de julho, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) divulgou os vencedores e vencedoras do Prêmio Intercom de Comunicação, em quatro categorias conhecidas como Prêmios Estudantis Intercom cujo objetivo é reconhecer e divulgar as melhores pesquisas realizadas em nosso campo no Brasil. O JORNAL INTERCOM conversou com a primeira colocada na categoria Doutorado e com o primeiro colocado na categoria Mestrado Profissional, como forma de ampliar a divulgação dessas pesquisas. Confira:
Lorena Cruz Esteves, 1º lugar na categoria Doutorado com a tese Ativismo de mulheres indígenas em ambientes digitais: diálogos sobre (de)colonialidades e resistências comunicativas, desenvolvida e defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA) sob a orientação de Danila Cal.
JORNAL INTERCOM – Por que decidiu inscrever sua tese na premiação?
LORENA ESTEVES – O congresso da Intercom é evento de referência que reúne pesquisadoras/es reconhecidas/os na área da Comunicação, assim como jovens estudantes que estão iniciando a trajetória acadêmica, e essa premiação oferece um espaço de visibilidade ampliada e reconhecimento da pesquisa desenvolvida em todo o país. Considerando a relevante temática da tese, a proposta teórico-metodológica decolonial e o protagonismo da pesquisa desenvolvida na Amazônia, consideramos um posicionamento político inscrevê-la na premiação.
JORNAL INTERCOM – E seu trabalho foi o primeiro colocado na categoria Doutorado! Qual é o significado disso para você?
LORENA ESTEVES – Sinto-me honrada e feliz por ser o primeiro lugar, especialmente porque sei que estou representando a Amazônia brasileira e a primeira turma de Doutorado na área da Comunicação em uma universidade pública da Amazônia brasileira, implementada na UFPA. Uma conquista não só pra mim, mas para o PPGCOM/UFPA, que lutou pela implementação do Doutorado, para toda a nossa comunidade acadêmica e também para as vozes subalternizadas e geopoliticamente localizadas em territórios marcados pela exploração. Portanto, é uma conquista coletiva!!! Devemos celebrar e continuar lutando pelo ensino público gratuito e de qualidade, pelas pesquisas engajadas e pela presença cada vez maior de sujeitas e sujeitos historicamente vulnerabilizades no interior das universidades, trazendo as suas experiências e vivências e uma perspectiva decolonial para as pesquisas.
JORNAL INTERCOM – Qual é a contribuição que sua pesquisa deu/dá ao campo da Comunicação e como o prêmio aumenta esse alcance?
LORENA ESTEVES – A investigação visou a compreender o ativismo digital de mulheres indígenas que estão na linha de frente do Movimento Indígena Brasileiro, protagonizando a luta coletiva contra opressões interseccionais que atravessam seus corpos-territórios, a partir de uma abordagem teórico-metodológica que busca a denominada "inversão do olhar", com base em epistemologias não hegemônicas, como o Feminismo Decolonial e a Interseccionalidade, aliadas à Comunicação, como lentes de análise. Para isso, propusemos a identificação e análise dos sentidos produzidos por mulheres indígenas nos processos de resistência em ambiente digital, por meio do diálogo com e entre diferentes mulheres indígenas que participaram do Acampamento Terra Livre - ATL 2020, ocorrido em formato inédito, inteiramente digital. É uma pesquisa que não só evidencia as opressões que recaem sobre os corpos-territórios de mulheres indígenas – como violências, racismo, machismo, não demarcação de terras, invasão de terras e garimpo –, mas amplifica os processos de resistências a essas opressões, demonstrando, com base no que foi externalizado por elas ao longo da pesquisa, formas de re(existir) em suas atuações individuais e coletivas, conquistas de espaços e direitos, que as inseriram em um papel de protagonismo no Movimento Indígena Brasileiro. E a comunicação, especialmente a mediada digitalmente, se situa nesse contexto em uma dimensão central nos processos de resistências. Inferimos que, assim como as opressões, as resistências de mulheres indígenas também são interseccionais.
Considero fundamental destacar que dialogamos com nossas Interlocutoras, com as pesquisadoras que referenciamos e cruzamos, e às vezes confrontamos, com nossas vivências e experiências, em um caminho de escuta e respeito. Refletimos as vozes de diversas mulheres que nos atravessam, além das nossas próprias vozes. Por isso, esta não é uma pesquisa que tenta representar ou falar em nome de mulheres indígenas. Ao contrário, ela nasce de um posicionamento político de ampliar o conhecimento sobre os processos de resistência de mulheres indígenas em plataformas de comunicação digital, com base em epistemologias não-hegemônicas que complexificam o olhar sobre o fenômeno analisado.
Temos muito a aprender com os povos indígenas sobre a nossa relação com o que nos cerca. A sociedade moderna possui um imaginário colonial, racista, neoliberal e neoextrativista que compreende o território sob a ótica da exploração para acumulação de riquezas. Um ideário forjado ainda no processo de colonização, fortalecido pela sociedade moderna capitalista que desloca o que considera natureza de humanidade. E as populações vulnerabilizadas como as indígenas são as que mais sofrem, pois são vistas como empecilho a esse pensamento "desenvolvimentista", seus corpos são violados, explorados, suas identidades são negadas, invisibilizadas. Precisamos aprender a ouvir o que eles e elas têm a nos dizer, reconhecer seus saberes ancestrais e valorizar sua diversidade cultural.
JORNAL INTERCOM – Em sua visão, qual é a importância de existir um prêmio como esse?
LORENA ESTEVES – O prêmio é um incentivo à produção acadêmica, valoriza a dedicação que as/os profissionais empenharam na produção e compartilhamento de conhecimento acerca de diversas realidades sociais, além de dar visibilidade às pesquisas e a toda uma rede de pesquisadoras/es relacionados, pois pesquisa não se faz individualmente, é um processo coletivo.
Jefferson Saylon Lima de Sousa, 1º lugar na categoria Mestrado Profissional com a dissertação Produção e gestão de podcast: um guia de adoção para as organizações, desenvolvida e defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Profissional da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) sob a orientação de Márcio Carneiro dos Santos.
JORNAL INTERCOM – Como foi a experiência de participar dos Prêmios Estudantis da Intercom e por que essa participação é importante?
SAYLON DE SOUSA – A coordenação do programa selecionou meu trabalho para o prêmio da Intercom e outro para o prêmio da Compós. Pela proposta mais aplicada e com um produto desenvolvido, eu desejava disputar a premiação da Intercom, então fiquei muito satisfeito com a indicação. E foi tudo muito bom para o PPGCOMPro/UFMA, que acabou se destacando bastante: eu venci a categoria Mestrado Profissional do Prêmio Intercom de Comunicação e a outra dissertação foi segundo lugar (menção honrosa) no Prêmio da Compós.
Um prêmio nacional serve para mostrar que todo o Brasil, independentemente das adversidades existentes em algumas regiões ou cidades, pode propor pesquisa de qualidade em Comunicação. Eu estou aqui no Maranhão e, querendo ou não, há sempre uma desconfiança quanto a nossa capacidade de promover bons estudos e desenvolver pesquisas com resultados relevantes. Ainda bem que entidades como a Intercom combatem esse cenário e dão ampla oportunidade a todos os pesquisadores do país. Uma premiação que tem participantes diversificados, pesquisas plurais e vencedores de diversas regiões é uma resposta a quem nega espaços dentro da academia. Eu, como nordestino, fico feliz de ser o premiado deste ano porque é uma vitória minha, mas que carrega um simbolismo de ser de muitas mãos – de meu orientador, o professor Márcio Carneiro, os demais professores do PPGCOMPro/UFMA, os professores do Curso de Comunicação Social da UFMA… Enfim, é um prêmio que permite a visibilidade dos espaços de produção científica do país inteiro e coloca em cena o fato de que a Pesquisa em Comunicação é plural.
JORNAL INTERCOM – O Mestrado Profissional é uma importante porta de entrada para a carreira acadêmica. Para você, pessoalmente, a premiação serve como um incentivo para seguir pesquisando?
SAYLON DE SOUSA – Acredito que ser o vencedor da categoria Mestrado Profissional é receber um sinal de reconhecimento não somente pelo bom trabalho desenvolvido em dois anos de pós-graduação e pela criatividade– ou o que quer que seja essa habilidade que nos impulsiona a tornar o campo da Comunicação um espaço crítico e produtivo. É um reconhecimento por meus dez anos como pesquisador até aqui. Estou no ambiente acadêmico desde 2012, quando entrei na graduação em Comunicação Social na UFMA; de 2013 para cá, venho atuando como jovem pesquisador, integrando grupo de pesquisa e desenvolvendo a iniciação científica (fui bolsista PIBIC no biênio 2015-2016). Mesmo após me formar e ingressar no mercado de trabalho, não me afastei da pesquisa acadêmica e, em pouco menos de um ano, voltei para a universidade como profissional (exerço a função de sonoplasta e técnico de laboratório na TV UFMA e no Departamento de Comunicação Social da UFMA). Participei – e participo – de projetos de pesquisa aplicada, desenvolvendo programas educativos em multimídia, entre outras coisas. Então, sim, receber esse prêmio é uma primeira oportunidade que me é dada para entender que estou fazendo as escolhas certas enquanto profissional e ser humano e sabendo trabalhar dentro da área pela qual sou apaixonado. Se meu projeto é me tornar um pesquisador pleno em um futuro próximo, ser premiado agora na primeira década dessa jornada é uma dádiva.
JORNAL INTERCOM – Fale um pouco sobre a pesquisa que você desenvolveu.
SAYLON DE SOUSA – Minha pesquisa sempre teve um foco: promover meios de nós, profissionais de comunicação, lidarmos com os diversos cenários que se apresentam em nossas rotinas de trabalho. O podcast já é uma realidade presente na comunicação das organizações, mesmo que nem todas o tenham adotado ainda. É aí que entra minha pesquisa: quem ainda não adotou, foi justamente porque não encontrou nos assessores e publicitários que atuam no ambiente organizacional o know-how básico para decidir como, quando e em que condições o podcast passará a integrar o plano de mídia de seus clientes e contratantes. Minha pesquisa desenvolveu um guia multimídia que aborda justamente esses conhecimentos necessários para que todo aquele que diz “conheço podcast, mas não sei como fazer” possa ter uma ideia de como mudar esse discurso. E aí é legal pensar que essa pesquisa recebe este prêmio, mostrando que aqui no Nordeste há pesquisadores e profissionais que estão antenados nas discussões pertinentes ao mercado. Já fiz diversas oficinas e recebi propostas de trabalho envolvendo podcasts organizacionais e educativos desde a conclusão do mestrado. Agora penso que, com o prêmio, esse número vá aumentar, pois outros vão me enxergar como uma referência para atuar junto ou mesmo amadurecer suas próprias pesquisas sobre podcasting e comunicação organizacional.
JORNAL INTERCOM – Quais são os próximos passos?
SAYLON DE SOUSA – Tenho fé que essa conquista de agora vai reverberar nas próximas. Meu foco a partir de agora são as seleções para o Doutorado. Espero que esta premiação seja uma boa referência para as seleções e os possíveis orientadores de que não sou um aventureiro e que tenho objetivos reais na carreira de pesquisador em Comunicação. Encerro projetando que, quem sabe, possamos conversar novamente daqui a quatro ou cinco anos em uma possível premiação da tese (risos). E não, não é falta de modéstia, até porque sou bastante pé no chão. A questão é que acredito, sim, que todos podemos projetar expectativas. O segredo é ser humilde e não se afogar nelas. Obrigado mais uma vez por esse prêmio!
Na próxima edição, o JORNAL INTERCOM trará entrevistas com as primeiras colocadas nas categorias Mestrado Acadêmico e Graduação. Não perca!
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