INTERCOM 2022: PEDRO NUNES FILHO COMENTA HOMENAGEM E FALA SOBRE DESINFORMAÇÃO

24 de agosto de 2022

Por: equipe organizadora do Intercom 2022 na UFPB

O Troféu José Marques de Melo de Maturidade Acadêmica Regional, concedido anualmente a um(a) pesquisador(a) de referência na região onde é realizado o congresso nacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), será entregue neste ano ao professor Pedro Nunes Filho (UFPB). A cerimônia de premiação, que também incluirá o Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação e os Prêmios Estudantis da Intercom, será realizada no dia 7 de setembro, a partir das 19h30, no Cine Aruanda, no campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, como parte da programação do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022). Algumas horas antes, Nunes Filho participará da terceira mesa do 45º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, debatendo o tema “Existe vacina para a desinformação?” com Luisa Massarani (Fiocruz), Patrícia Blanco (Instituto Palavra Aberta) e Pollyana Ferrari (PUC-SP) e mediação de Ivanise Hilbig de Andrade (UFBA/Intercom).

Pós-doutor em Comunicação em Sistemas Hipermídia pela Universidad Autònoma de Barcelona (UAB) e doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com bolsa sanduíche na na UAB, Nunes Filho é professor emérito da UFPB e pesquisador em Comunicação e Semiótica, com ênfase em processos midiáticos audiovisuais. Também é realizador de filmes e vídeos, fotógrafo e autor e organizador de diversos livros, entre eles “Democracia Fraturada” (2019) e “Mestre da Utopia: fragmentos de uma caminhada polifônica” (2021, supervisor).

A equipe de comunicação da comissão organizadora do Intercom 2022 conversou com o professor Pedro Nunes Filho sobre a premiação, o tema do congresso – “Ciências da Comunicação contra a desinformação” – e sua participação no Ciclo de Estudos. Confira:

Como o senhor se sente com o reconhecimento do Troféu José Marques de Melo de Maturidade Acadêmica Regional e qual é a importância de valorizar os esforços de pesquisadores e pesquisadoras da Comunicação no Brasil?

PEDRO NUNES – Em poucas palavras, sinto-me honrado pela iniciativa que reconhece a minha caminhada acadêmica associada às experiências compartilhadas e aos projetos colaborativos, expressos em livros autorais e coletivos; produção audiovisual; projetos multimídia; ações de ensino conjugadas com extensão no âmbito da graduação e pós-graduação; pesquisa e articulações com universidades brasileiras e estrangeiras. Trata-se de uma honraria com um peso simbólico, outorgada pela maior entidade brasileira de estudos interdisciplinares no campo das Ciências da Comunicação. Credito essa premiação às minhas instituições de origem: Universidade Federal de Alagoas (meu berço acadêmico) e Universidade Federal da Paraíba, que me concedeu o título de Professor Emérito em reconhecimento à minha dedicação acadêmica. Nessas duas instituições públicas, pude exercer plenamente meu trabalho profissional com liberdade, dignidade, ética e compromisso universitário e estabelecer intensos diálogos em contextos comunitários. Por fim, sou imensamente grato à Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação por esse reconhecimento, em um momento em que as universidades públicas brasileiras vivenciam o descaso proposital por parte do governo federal, que insiste em promover ataques sistemáticos à arte, à cultura e à ciência.

O senhor participará do 45º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, no dia 7 de setembro, em uma mesa que traz como tema uma pergunta instigante: “Existe vacina para a desinformação?”. Diante da questão apresentada, qual é seu posicionamento?

PEDRO NUNES – Existem, sim, diferentes vacinas para a DESinformação, circunscritas a uma PROCESSUALIDADE de ações que mobilizam: o conhecimento; a ciência; a educação; o discernimento crítico; a produção de autorregulações (códigos de conduta); a existência de leis que resultem em enquadramentos jurídicos de pessoas, coletivos, entidades governamentais e não governamentais, plataformas; mecanismos de checagem e ações de educomunicação. Afinal, as vacinas, enquanto fruto do trabalho da ciência, são os agentes imunizadores que nos protegem.

O que é desinformação?

PEDRO NUNES – A DESinformação é um fenômeno transnacional, atravessado pelos vieses ideológico, econômico e político, que engloba a realidade brasileira. Está relacionada, essencialmente, aos movimentos e fluxos ilegais de conteúdos falsos que resultam em efeitos perversos. Não é um fenômeno recente, contudo nesta última década (2013 a 2022) ganhou complexidade face às reconfigurações dos sistemas digitais; das dinâmicas tecnológicas, acrescidas dos agentes inteligentes, bots, algoritmos...; capacidade de armazenamento; simultaneidade das ações em rede; descentralização dos polos de produção; disseminação de conteúdos; automação de fluxos e velocidade relacionada ao processamento e trânsito de dados.

O conceito está associado com fabricação de mentiras, maquinações de ódio e disseminação de avalanches de informações deturpadas com a máscara de verdade. Seu modo de construção narrativa contempla os apelos emocionais; adulterações simplórias; ofensas; sensacionalismo; embaralhamentos; anonimato e propagação multiforme com auxílio das plataformas. A DESinformação se completa do outro lado, no polo da recepção e no processo de irradiação (semiose), junto aos outros usuários da malha digital.

O fenômeno também faz parte, interfere e afeta as corporações midiáticas e a própria credibilidade jornalística. Convém assinalar que a DESinformação tende a sobreviver mesmo após ser desmentida pelos autores, por decisões das plataformas ou por enquadramentos judiciais.

Qual é a forma mais eficaz de combater a desinformação atualmente?

PEDRO NUNES – Destaco cinco mecanismos para se combater a DESinformação:

1. Necessidade de se ampliar a existência das AUTORREGULAÇÕES (metarregulações), como forma de ser estabelecida uma cultura de partilha das responsabilidades. A autorregulamentação precede as ordenações do sistema jurídico;

2. Formulação de leis com escopo analítico necessário que abarque a complexidade, as variantes e complexidades da DESinformação. O tema requer mobilização, participação social e horizontalidade nos processos de discussão de elaboração das leis;

3. Levar em conta o protagonismo das universidades, com ênfase nos programas de pós-graduação, enquanto centros de investigação que desempenham um papel relevante no processo de desenvolvimento de tecnologias e produção conhecimento científico;

4. Desenvolvimento de ações educomunicativas em diferentes esferas públicas e privadas, visto que a DESinformação também se combate com Educação crítica e Comunicação;

5. Associada à pesquisa, deve-se enfatizar a importância da COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA (principalmente dos periódicos científicos), com a produção de dossiês com avaliação e revisão por pares. Nesse processo de interação e diálogos com segmentos da sociedade sobre a DESinformação, uma outra perspectiva que deve ser intensificada, congregando esforços de governo, universidades, corporações de mídias e plataformas digitais, com ações de DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA − processo também denominado de Comunicação Pública da Ciência.

Na mesa do Ciclo de Estudos, destacarei outras propostas de combate à DESinformação.

O combate à desinformação é o tema central do Intercom 2022. Qual é a importância do congresso nacional da Intercom para a sociedade acadêmica na área das Ciências da Comunicação e para a sociedade?

PEDRO NUNES – O congresso nacional da Intercom ganhou amplitude nos últimos anos e tem uma extrema importância acadêmica para pesquisadores(as) e estudantes da área das Ciências da Comunicação, não só no Brasil, mas também na América Latina e em Portugal. A sua relevância acadêmica também se distingue pelo espectro de seus 33 Grupos de Pesquisa no campo da Comunicação. Outro aspecto significativo deste congresso acadêmico é o quantitativo de associados(as) e de pesquisadores(as) inscritos(as), com apresentação qualitativa de comunicações, artigos científicos, reuniões por áreas entre programas de pós-graduação, formação de grupos de pesquisa em rede e articulações que quase sempre resultam em intercâmbios entre universidades (tanto públicas quanto privadas).

A entidade, através dos seus congressos (regionais e nacional), além de traçar ações projetivas em todas as áreas que integram o campo da Comunicação, também conquistou respeitabilidade por seus periódicos científicos e pelas premiações de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses e reconhecimento de trajetórias acadêmicas com maturidade intelectual, grupos inovadores e instituições paradigmáticas.

Todas essas iniciativas, associadas à diversidade de publicações científicas, resultam em interações com a comunidade acadêmica nacional e internacional e produz diálogos com órgãos governamentais, iniciativa privada e segmentos da sociedade. Enfim, a importância do congresso nacional da Intercom se traduz nessa multiplicidade de aprendizados dinâmicos.

Por fim, o senhor poderia deixar uma dica de leitura para estudantes e pesquisadores que queiram seguir na pesquisa sobre comunicação e o combate à desinformação?

PEDRO NUNES – De um modo geral, recomendo a leitura dos dossiês de periódicos científicos que tratam do fenômeno da desinformação, de informações falsas e processos de manipulação, a exemplo das recentes edições das revistas Organicom (ano 17, n. 34, 2020), Desinformação e comunicação na sociedade contemporânea, e Fronteiras – estudos midiáticos (v. 23, n. 2, 2021), Desinformação em Plataformas Digitais no Contexto da Pandemia. Em termos de livros, indico: “A Máquina do Ódio” (2020), de Patrícia Campos Mello; “De Onde Vem a Mentira?” (2021), de Lucia Santaella; “Jornalismo, Fake News & Desinformação” (2019), organizado por Cherilyn Ireton e Julie Posetti, com financiamento da Unesco; e “Democracia Fraturada” (2019), de Pedro Nunes.

Confira também:

Entrevista com Eugênio Bucci (USP), que fará a conferência de abertura do Ciclo de Estudos

Uma prévia do que algumas e alguns convidados vão falar nas mesas do Ciclo de Estudos

O Intercom 2022 será realizado de 5 a 9 de setembro, presencialmente na UFPB em João Pessoa, com o tema central “Ciências da Comunicação contra a desinformação”. Além do Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e das premiações, a programação inclui as sessões de apresentação de trabalhos dos Grupos de Pesquisa e do Intercom Júnior, mostra competitiva de trabalhos experimentais do Expocom, evento de lançamentos de livros (Publicom), oficinas e minicursos, e uma série de conferências, fóruns, colóquios e mesas temáticas. Para acessar a programação, clique aqui.

Mais informações sobre o Intercom 2022 podem ser consultadas no Portal Intercom e no site oficial do congresso.

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