1º de novembro de 2022
O Grupo de Pesquisa (GP) Comunicação e Religiões da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) realizou na última quarta-feira (26/10) o seminário temático “Mídias, eleições e nova direita cristã”. Conduzido na plataforma Zoom com participantes inscritos(as), o evento agora está disponível no canal do GP Comunicação e Religiões no YouTube.
“O seminário discutiu a formação e consolidação de uma nova direita cristã no Brasil, tanto da parte de evangélicos como de católicos, não partindo da religião usada pela política nem da relação da religião com a política, como vínhamos tratando por muitos anos, mas a religião como política – quando a religião se torna um elemento do quadro político nacional, com personagens do mundo religioso articuladas em torno de uma política de extrema direita, que foi o que pudemos observar durante o governo Bolsonaro, e também com personagens não religiosas usando a matriz religiosa para defender suas pautas”, comenta Magali do Nascimento Cunha (ISER), coordenadora do GP Comunicação e Religiões da Intercom. “Foi muito interessante observar o lugar das mídias na consolidação desse processo, na propagação desses conteúdos e na sustentação dessa extrema direita. Identificamos ali que temos um caminho aberto para muitas pesquisas, para muitas elaborações em torno desse novo quadro, em especial aquelas que envolvem os processos de comunicação.”
Abordando o tema sob o viés do catolicismo, Brenda Carranza (Uerj/Unicamp) partiu da análise de acontecimentos do processo eleitoral deste ano, tais como a cobertura da mídia no episódio de 12 de outubro em Aparecida do Norte, em que bolsonaristas hostilizaram a imprensa, comparando-a com o episódio do “chute na santa”, de 1995: "O 12 de outubro de 2022 tem outra mediosfera, e esta vai ser trabalhada a partir de um projeto não só político, se não um projeto civilizacional", afirmou. "O fato foi reverberado na mídia em um processo binário de ‘nós contra eles’, e há uma agressão e uma usurpação de um espaço político [e de] um espaço religioso. [...] A pergunta mais importante não é se a religião é manipulada [politicamente]. A pergunta mais importante é: que elementos sócio-políticos são mobilizados para ter a adesão religiosa? Ou que elementos religiosos são mobilizados para ter a adesão social, independentemente de confessionalização?”, questionou.
Em seguida, a pesquisadora analisou o avanço da cristofobia em um país majoritariamente cristão e como esse discurso vem sendo apropriado pelo catolicismo para, então, chegar à fragilização democrática por meio da agenda moral antigênero, da regionalização do sentimento de perseguição e da concepção de um feminismo cristão. "Essa direita cristã e essas bandeiras estão alicerçadas em uma cosmovisão de uma reconstrução do reino de Deus na esfera pública, com uma pauta concreta trazida dos anos 1970 – a guerra cultural – diante de uma degradação moral, mas que traz também sua própria pauta teológica na grande teologia do domínio, que pode também ser compreendida, em toda a América Latina, como reconstrucionista", concluiu.
Já a análise da extrema direita evangélica foi trazida por Andréa Laís Barros Santos, doutoranda em Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Andréa apresentou uma pesquisa da qual participa na Casa Galileia como parte de um projeto mais abrangente, intitulado “Democracia em xeque”. O estudo consiste no monitoramento diário de perfis evangélicos nas redes sociais e na análise das narrativas veiculadas neles. Após apresentar os dados da pesquisa, demonstrando que os perfis evangélicos de extrema direita no Facebook, no Instagram e no YouTube são mais ativos e têm mais alcance do que os de centro e os democráticos, Andréa afirmou que "a sensação é sempre de uma guerra perdida”.
“A extrema direita evangélica migrou para as redes sociais de uma forma muito efetiva", concluiu a pesquisadora, elencando os recursos utilizados por esses perfis para obter audiência e engajamento: rotina intensa de produção de conteúdo; qualidade variável (enquanto alguns são bastante amadores, outros usam estética das mensagens motivacionais, em verdadeiras superproduções); conteúdos alarmistas de escatologia e fim dos tempos (sensacionalismo); e investimento e retorno financeiro (com monetização e venda de cursos). Tudo isso é amplificado por um ecossistema evangélico de extrema direita nas mídias sociais, em que figuras diretamente ligadas ao gabinete do ódio (como Silas Malafaia, Magno Malta e Damares Alves) são repercutidas por três categorias de perfis: os disparadores de narrativas e portais de notícias; os replicadores de conteúdos; e os comentadores e canais de discussão.
Em relação ao conteúdo veiculado, as principais narrativas reveladas na pesquisa são: uso do terror/pânico moral; guerra cultural/de narrativas sobre o que é democracia, quem é o povo e para quem é a liberdade; e invalidação das fontes seguras de informação (imprensa, Judiciário, universidades, professores, institutos de pesquisa, organismos internacionais).
Após as duas apresentações, as convidadas responderam a dúvidas dos(as) participantes.
Para conferir a íntegra do seminário, clique aqui.
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