Foto: Bob Paulino
Promovido pela Intercom e realizado no dia 24 de março, o seminário
“Alternativas à mídia tradicional” levou ao Centro Cultural Marques de Melo, em
Pinheiros, São Paulo, alguns dos jornalistas com mais visibilidade em veículos
– revistas, coletivos, blogs, sites – que não adotam a linha editorial
hegemônica na chamada “grande imprensa”. O encontro foi coordenado pelo diretor
Editorial da Intercom, Felipe Pena, que na abertura destacou a importância do posicionamento
político da entidade no atual momento do país. Antes de os debates começarem, a
presidente Marialva Barbosa lembrou o caráter pluralista, democrático e não
sectário da Intercom.
Os participantes falaram sobre suas fontes de financiamento, os problemas identificados na mídia tradicional, a atuação da Justiça em relação aos jornalistas independentes, as relações com este e os atuais governos e as perspectivas para sua atividade e o jornalismo no futuro. O seminário está disponível, em sua íntegra, no YouTube, basta acessar www.youtube.com/watch?v=P6BJWUXl-a8&feature=youtu..... Veja algumas declarações:
Mino Carta (Carta Capital) – “O golpe de Estado no país não foi apenas parlamentar, juntou judiciário, mídia e parlamento”.
“A comparação entre a Lava-Jato e o que aconteceu na Itália não se sustenta. A ‘Mani Pulite’ teve poucos vazamentos, e para a imprensa de todas as tendências políticas. Aqui, não”.
“O jornalismo honesto não deve cuidar da cobertura do que o público quer ler, mas cobrir aquilo que o público precisa ler”.
Mino Carta, Felipe Pena e Paulo Henrique Amorim - Foto: Bob Paulino
Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada) – “O financiamento do site vem do Google, em função da audiência. Paga merreca, mas religiosamente, em dólar. Há uma ou outra inserção publicitária errática, Bradesco, governo da Bahia, prefeituras. Mas basicamente quem sustenta o Conversa Afiada sou eu e minha esposa, que pagamos a equipe”.
“Com o fim da lei de imprensa, todos foram contra os jornalistas. Aí, coloca-se um processo na primeira instância, que vai seguindo até o Supremo e acabando com o dinheiro dos processados. É a judicialização da imprensa”.
“Os jornalistas que chegam ao mercado vão sofrer muito. A internet degradou o modelo anterior. O segmento de mídia digital do New York Times não paga as contas. Lá, os jornalistas precisam fazer muitas coisas, gravar vídeos, redigir etc., e no Brasil deverá acontecer o mesmo. Aqui está havendo também uma pejotização cada vez maior, reduzindo salários, quadros e condições de trabalho”.
Helena Chagas (Os Divergentes) – “Hoje nosso site não se sustenta, ele fez um ano agora. Nós temos posições muito divergentes entre nós, e a ideia é essa mesmo: estimular o debate e a tolerância. Recebemos recursos por meio do Google e há uma ou outra campanha, como a do governo do DF”.
“Convivo bem com o estereótipo de quem trabalhou para o PT, ter sido ministra foi um capítulo da minha história. Não sou filiada a partido político, nunca fui. Eu já tinha uma história profissional antes, me sinto muito à vontade para ser analista política”.
“Nunca foi tão fácil e nunca se fez tão pouco jornalismo investigativo como hoje. Os jornalistas são todos dependentes de vazamentos”.
Luís Nassif (Jornal GGN) – “Hoje estamos no vermelho, o governo atual retirou todos os patrocínios, por questões ideológicas. Um consolo que não é consolo é que nós quebraremos, se for o caso, depois das empresas tradicionais”.
“O sigilo da fonte é um bem da sociedade. Quando um juiz dá
entrevista e diz que o blogueiro entregou a fonte, ele repete o que se fez na
ditadura, de desqualificar a pessoa e desmoralizá-la. Um episódio gravíssimo, o
poder do Estado usado contra uma pessoa física”.
“Hoje é muito mais fácil fazer jornalismo investigativo do que antes. Mas quem tem recurso para isso não tem gente experiente”.
Felipe Altenfelder (Mídia Ninja) – “Nas manifestações de 2013, conseguimos fazer transmissões com celular e cartão pré-pago para 150 mil pessoas, o que representa 1, 1,5 ponto de Ibope”.
“No começo, os veículos tradicionais nos pediam material, depois nos trataram como pauta, queriam nos entrevistar. Demos entrevistas e, após a participação do Pablo Capilé no Roda Viva, eles perceberam que não era possível nos cooptar. E passaram a nos atacar”.
“Hoje, precisamos atuar em rede para nos contrapor às forças conservadoras, que estão cada vez mais poderosas”.
Miguel do Rosário (O Cafezinho) – “A conta no Twitter, as assinaturas e o Google são fontes de financiamento. A gente só conseguiu publicidade estatal nos últimos seis meses do governo Dilma, antes não tinha recurso nenhum do governo”.
“Hoje estamos contra todos, o status quo se organizou, somos críticos em relação a polícia, MP, justiça, mídia etc. Ao mesmo tempo, os blogs nunca tiveram tanto prestígio, porque quando o PT estava no poder éramos chamados de chapa branca. Hoje, quem é completamente chapa branca é a mídia tradicional”.
“A gente está na infantaria dessa luta e precisa ser forte para não sucumbir. O grande desafio é não se aferrar ao conceito utópico da vitória política total, a vitória será plantar a semente na população de que ela pode mudar as coisas”.
Kiko Nogueira (DCM) – “Houve uma aposta que os blogs acabariam com o fim do ‘governo bolivariano satânico’, mas eles continuam, com mais audiência”.
“Como toda a mídia, fomos procurar nos governos do PT formas de financiamento, mas a maioria das conversas foi infrutífera. Com o golpe, muitos contratos foram rompidos, estamos na justiça, inclusive, mas não dará em nada, provavelmente”.
“O que se abriu na internet foi a pluralidade de ideias. Precisamos manter o decoro, sem publicar vazamentos, por exemplo, como a mídia tradicional faz. Os historiadores contarão como foi o golpe. O nosso papel é fazer o simples e difícil”.
Vinícius Souza (Jornalistas Livres) – “Nós somos um grupo de velhos jornalistas, gente que tem experiência em jornalismo de rua, jornalismo investigativo, coberturas internacionais, gente que trabalhou na mídia muito tempo. Um grupo angustiado com o que estava acontecendo na mídia tradicional e com a falta de contrapontos”.
“A gente tenta fazer um trabalho mais aprofundado, com análises, ensaios fotográficos. Criamos um crowdfunding e arrecadamos mais de 130 mil reais para montar uma estrutura mínima, que temos até hoje”.
“O Jornalistas Livres não dá dinheiro para ninguém. Fazemos porque a pauta berra, como a da violência urbana. Isso precisa ser dito, e bem dito. Temos muita preocupação com a checagem das informações, um problema seriíssimo na mídia independente”.
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